segunda-feira, 25 de maio de 2009

Camões uma analise um aprendisado

   Quando comecei a estudar Camões, nunca imaginei que o mesmo tivera sido um homem de tão belas palavras. Mesmo falando de suas loucas paixões era tão delicado em seus poemas, o que mostra que tinha um grande conhecimento, era um homem muito além de sua época.

   Só não imaginava que em um de seus poemas, Camões iria usar seus conhecimentos e de seu tempo para contar uma história que muito me comove, a história de Jacó.

   Não vim aqui para escrever sobre minha religião, muito menos para falar o que acho certo ou errado, estou escrevendo para lhes explicar um poema que garanto, muitos não conhecem a história.

Sete anos de pastor Jacó servia

Sete anos de pastor Jacó servia
Labão, pai de Raquel serrana bela,
Mas não servia ao pai, servia a ela, 

Que a ela só por prêmio pretendia.                                                               


Os dias na esperança de um só dia
Passava, contentando-se com vê-la:
Porém o pai usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe deu a Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
Assim lhe era negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,

Começou a servir outros sete anos,
Dizendo: Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida.                                

 

 

   A história desse soneto está em um livro da Bíblia, Gênesis ( capítulo 29), mas contarei um pouco antes para que conheçam um pouco de Jacó.

   Jacó foi filho de Isaque e Rebeca, tinha um irmão mais velho chamado Esaú. Isaque envelheceu e perdeu a visão, sabendo que sua morte não demoraria pediu a seu filho mais velho que caçasse um animal e fizesse uma comida saborosa para ele comer e em seguida o abençoaria. Porém Rebeca escutou quando Isaque falava ao seu filho Esaú, e logo foi dizer a Jacó, seu preferido, que ela faria o guisado saboroso, e ele vestido de pele de animal, para disfarçar, pois seu irmão era muito peludo, levaria a comida para receber a bênção.

   Depois de descobrirem a traição, Esaú ficou enraivecido com o irmão, então o pai e a mãe mandaram o filho Jacó para a casa de Labão, seu tio, na terra do Oriente onde Jacó entra em contato com Raquel (primeiramente) e Lia (ou Léia).

   Ficou um mês servindo a seu tio. Depois desse tempo, Labão não achava certo que Jacó trabalhasse de graça então perguntou ao rapaz o que ele queria receber pelo seu trabalho, então Jacó respondeu: -“trabalharei sete anos para o senhor a fim de poder casar com Raquel.”, pois ele a amava desde o momento em que a viu.

   A Bíblia relata que Jacó amava tanto Raquel que os sete anos pareceram-lhe poucos dias. De fato, esses anos servindo como pastor é a proposta feita por Jacó a seu tio Labão, a fim de receber, em casamento, a jovem Raquel, de quem se apaixonou. “Mas”, afirma o sujeito lírico, “não servia ao pai, servia a ela, / Que a ela só por prêmio pretendia”, como no texto bíblico. Passado os anos, Jacó pediu Raquel para ser sua mulher, foi realizado o casamento, e Labão enganou o sobrinho e lhe entregou a filha mais velha, Léia. Jacó sem saber teve relações com ela e quando amanheceu ele descobriu que não era a sua amada. A desilusão está presente no primeiro terceto, em virtude dos anos perdidos. E foi falar com o seu tio, Labão disse que quem deveria se casar primeiro era a filha mais velha, então eles fizeram outro acordo. Jacó trabalharia mais sete anos para se casar com Raquel, seu grande amor.

   Na Bíblia, o amor é mais superficial, – “Raquel tinha se tornado bela de figura e bela de semblante”; no soneto, há referência não apenas à beleza de Raquel -“serrana bela”-, realçando-se também o sentimento amoroso, no modo como o soneto se inicia e se fecha, “Sete anos de pastor Jacó servia/...Começou a servir outros sete anos, / Dizendo: Mais servira, se não fora/ Para tão longo amor tão curta a vida”. O Jacó de Camões confirma a escolha de seu amor ao abrir e fechar o soneto com a alusão aos sete anos e ao verbo que atravessa todo o poema, “servir”, indicador de sua fidelidade amorosa.

   Um fato percebido por nós é o de que há duas visões no soneto: de um lado, a das tradições bíblicas com que o pai, em lugar de Raquel, oferece a filha mais velha, de outro, a de Jacó, figura muito próxima do estilo renascentista.

 

Simone de Albuquerque Martins e Janay Ceribeli Nascimento

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